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Cortar ou Não as Penas da sua Ave? Um Guia Completo para uma Decisão Consciente

  • Foto do escritor: Dra MV Gisele Stein
    Dra MV Gisele Stein
  • 27 de ago.
  • 7 min de leitura
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Por Dra Gisele Stein, Médica Veterinária Especializada em Animais Não Convencionais



A janela da cozinha estava aberta por apenas uma fresta. Era uma tarde quente de verão e a brisa era bem-vinda. Zeca, uma calopsita mansa e amada, estava no ombro de sua tutora, como de costume, bicando carinhosamente sua orelha. Um barulho súbito na rua – uma moto acelerando – assustou o pequeno. Em uma fração de segundo, o instinto de milhões de anos falou mais alto. Zeca voou. Não um voo planejado, mas um voo de pânico. A fresta na janela foi o suficiente. Em desespero, sua tutora correu para a rua, mas Zeca, desorientado e apavorado, já era apenas um ponto cinza no céu, desaparecendo para sempre...


Essa história, infelizmente, não é ficção. Eu a ouvi, com variações de cenário e espécie, dezenas de vezes em meu consultório, sempre acompanhada de lágrimas e de um profundo arrependimento. E é essa a imagem que assombra todo tutor de ave e que acende o eterno debate: devemos aparar/cortar as penas das asas para evitar fugas e acidentes, ou estamos privando nossas aves de seu comportamento mais natural e essencial?


A resposta não é um simples "sim" ou "não". Como veterinária, dona de uma ave pet (a famosa Dharma, uma ararajuba) e amante do comportamento aviário, posso afirmar que não existe uma solução única que sirva para todas as aves, todos os tutores e todos os lares. A decisão é um complexo balanço entre segurança e bem-estar, e meu objetivo hoje é fornecer a você, tutor, todas as ferramentas científicas e práticas para que possa fazer a escolha mais informada e amorosa para sua ave.


Por Que Essa Decisão Pesa Tanto?

A capacidade de voar é a própria definição de ser uma ave. É como ela se exercita, explora, foge de perigos e interage com o ambiente. Alterar essa capacidade, mesmo que temporariamente, tem consequências profundas que vão muito além de simplesmente impedir a fuga.

  • Impacto Físico: O voo fortalece o sistema cardiovascular, o sistema respiratório e toda a musculatura peitoral. Uma ave que não voa é uma ave que podemos dizer de forma superficial, "sedentária".

  • Impacto Psicológico: O voo é uma expressão de liberdade e confiança. Uma ave que pode voar tem mais controle sobre seu ambiente, podendo se afastar de algo que a assusta ou se aproximar de seu tutor quando deseja. Retirar essa capacidade em aves que em algum dia já aprenderam a voar pode gerar medo, ansiedade, estresse e até depressão.

  • Impacto na Segurança: Embora o objetivo seja aumentar a segurança, um corte mal feito pode, ironicamente, causar acidentes graves, como quedas abruptas que resultam em fraturas no peito ou nas pernas.

Portanto, a decisão não pode ser tomada sem avaliar todos esses aspectos. É uma intervenção direta na biologia e no bem-estar de seu animal.


Vantagens e Desvantagens na Balança

Para tomar uma decisão embasada, precisamos analisar friamente os prós e os contras, sob a ótica da medicina veterinária. É importante ressaltar: falamos em "aparar/cortar as penas", nunca em "cortar as asas". O procedimento, quando realizado corretamente, consiste em aparar algumas das penas de voo primárias (as rêmiges primárias). É indolor, como cortar nosso cabelo, pois as penas são estruturas de queratina sem nervos ou vasos sanguíneos quando ja em sua fase madura.

Vamos colocar tudo em uma tabela para facilitar a visualização:

Aspecto

Argumentos a Favor de Aparar as Penas

Argumentos Contra Aparar as Penas (a Favor do Voo Livre)

Segurança Doméstica

Previne fugas por portas e janelas abertas. Reduz o risco de colisões em alta velocidade contra espelhos e vidraças. Evita acidentes graves como quedas em panelas quentes, vasos sanitários ou contato com outros pets.

Uma ave com capacidade de voo pleno tem mais agilidade para desviar de perigos súbitos dentro de casa (ex: um objeto caindo, uma pessoa tropeçando).

Saúde Física

Pode facilitar o manejo para tratamentos ou exames em aves muito ariscas, reduzindo o estresse da captura.

O voo é o melhor exercício cardiovascular possível. Fortalece o coração, os pulmões (sistema de sacos aéreos) e a musculatura peitoral (que corresponde a até 35% do peso da ave). Previne a obesidade e a atrofia muscular.

Saúde Psicológica e Comportamental

Pode tornar a ave mais dependente e dócil para o manejo, facilitando a interação inicial, especialmente com aves resgatadas ou não socializadas.

O voo promove confiança e independência. Uma ave que pode escolher se aproximar ou se afastar se sente mais segura. A incapacidade de voar pode levar a problemas como gritaria excessiva, agressividade por medo (bicadas), e ao arrancamento de penas devido ao estresse e tédio.

Risco de Acidentes

O objetivo principal é reduzir acidentes fatais por fuga ou colisões graves.

Um corte mal feito pode desequilibrar a ave, levando a quedas abruptas e fraturas graves no osso da quilha (esterno). A ave pode ainda conseguir um voo planado e descendente, caindo em locais perigosos que não conseguiria alcançar com voo pleno.

Visão Científica

A American Veterinary Medical Association (AVMA) considera o procedimento aceitável quando realizado por um profissional para garantir a segurança da ave, mas não o recomenda como prática rotineira sem avaliação criteriosa do ambiente.

Estudos de comportamento, como os publicados no Journal of Avian Medicine and Surgery, correlacionam a restrição de voo com o aumento de comportamentos anormais e estresse crônico. A tendência da medicina veterinária moderna é priorizar o bem-estar e a expressão de comportamentos naturais.


O Caminho do Meio Existe?

Sim! A decisão não precisa ser preto no branco. É possível criar um ambiente seguro que permita o voo ou optar por um corte consciente e seguro.


Se você optar por NÃO cortar as penas:

  1. "Telar" é Mandatório: Todas as janelas e varandas da casa devem ser protegidas com telas resistentes. Não há exceção. IGUALZINHO EM DOMICILIOS QUE POSSUEM GATOS!!! Engraçado que pra gato isso já virou rotina, mas pra tutores de aves isso ainda é um tabú.

  2. Crie uma "Área de Voo Segura": Um cômodo da casa deve ser à prova de acidentes. Cubra espelhos, desligue ventiladores de teto, feche portas e certifique-se de que não há objetos perigosos ao alcance.

  3. Treinamento é Essencial: Ensine comandos básicos de "vem" e "fica". Uma ave treinada é mais fácil de manejar e recuperar caso se assuste. Vou deixar um link para quem quiser de um curso maravilhoso que ensina esse truques de voo!

  4. Supervisão Sempre: Nunca deixe sua ave solta sem supervisão, mesmo em um ambiente telado. Normalmente elas são curiosas e podem colocar o bico onde não deve!

Se você optar por APARAR as penas:

  1. NUNCA FAÇA EM CASA! Procure um médico veterinário especializado. Ele saberá exatamente quais penas aparar e em que comprimento, buscando um voo planado e controlado, e não uma queda abrupta.

  2. Aparação Leve e Funcional: A tendência moderna não é mais impedir o voo completamente, mas sim restringir o voo ascendente (aquele que a ave sobe) e a velocidade. A ave deve ser capaz de planar com segurança até o chão se cair de um lugar alto.

  3. Observe a Ave: Após o procedimento, monitore o comportamento do seu pássaro. Ele está se equilibrando bem? Consegue descer dos poleiros com segurança? Se notar quedas, o corte pode ter sido excessivo.

  4. Lembre-se: Não é Permanente: As penas crescerão novamente na próxima muda. É uma decisão que precisa ser reavaliada periodicamente.


Mitos e Verdades Sobre o Corte de Asas


Mito: "Cortar as asas da minha ave vai ensiná-la a ser mais mansa."

Forçar a dependência não é o mesmo que construir uma relação de confiança. A docilidade pode ser resultado do medo e da falta de opção de fuga. A verdadeira mansidão vem da socialização positiva, do treinamento com reforço positivo e do respeito aos limites da ave.


Mito: "Depois de aparada, minha ave está 100% segura para ir à rua no meu ombro." FALSO E EXTREMAMENTE PERIGOSO! Uma ave com as penas aparadas ainda pode planar por uma distância considerável se for pega por uma rajada de vento. Ela não conseguirá voltar e ficará vulnerável no chão a predadores. Lugar de ave fora de casa é dentro de uma caixa de transporte segura ou usando um peitoral específico para aves (somente aves já bem treinadas para esse uso).


Em minha carreira, já atendi diversos casos de fraturas ou hematomas graves em aves com asas aparadas de forma incorreta do que em aves com capacidade de voo pleno. A queda "seca", sem a capacidade de amortecer com as asas, concentra todo o impacto em uma única área, podendo ser fatal em alguns casos.


A Melhor Decisão é a Decisão Informada


Voltando a Zeca, a calopsita da nossa história. Se suas penas estivessem aparadas por um profissional, ele talvez não conseguisse passar pela janela. Por outro lado, se a janela estivesse telada, ele teria se assustado, voado dentro de casa e pousado em segurança no chão, em seu poleiro ou no ombro de sua tutora minutos depois.

Como você pode ver, a segurança de uma ave não reside apenas em suas asas, mas no ambiente que nós, como tutores, criamos para ela. A decisão de aparar as penas é uma ferramenta de manejo, não uma solução mágica. Ela deve ser ponderada, discutida com um profissional e, acima de tudo, focada no que é melhor para a sua ave, no seu lar.

Pense em sua rotina, em sua casa, em seu nível de comprometimento com o treinamento e a segurança ambiental. Analise os prós e contras que discutimos. A resposta para o dilema das asas está nessa reflexão honesta.


Esta é uma decisão importante demais para ser tomada com base em achismos. A saúde física e mental da sua ave está em jogo.

Antes de pegar a tesoura ou decidir deixar as janelas abertas, pare. Marque uma consulta de orientação com um médico veterinário especializado em animais silvestres. Discuta seu ambiente, sua rotina e peça uma avaliação profissional sobre o que é melhor para seu companheiro de penas.

E você, qual sua experiência? Sua ave tem as penas aparadas? Você criou um ambiente de voo seguro? Deixe seu comentário abaixo! Sua história pode ajudar outros tutores a tomar a melhor decisão. Se este artigo clareou suas ideias, compartilhe-o e ajude a espalhar informação de qualidade.

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